segunda-feira, dezembro 11, 2006

Basta. Basta? Sim, basta!

Estou cansado de amar. E estou cansado de ser amado.
Estou cansado de gostar, de admirar e de querer bem.
Cansado de aceitação, de compreensão e de explicação.
Cansado de procurar. De ser procurado. De não procurar. E de não ser procurado.
Cansado da inocência. E cansado da perversão.
Estou cansado de mistérios. Enigmas. E cansado de revelações.
Cansado do sexo. E cansado do amor.
Cansado do amargo. E cansado de ser doce.
Cansado dos dentes que doem. E dos olhos que brilham.
Estou cansado da fidelidade. E cansado da traição.
Estou cansado de conceitos. Idéias. E objetivos.
Estou cansado de ter raiva. De odiar. E de querer que morra.
Estou cansado de estar. Ficar. E falar. E estou cansado do silêncio também.
Estou cansado de estar junto. E mais cansado ainda de estar sozinho.
Cansado de perder. De encontrar. De pertencer. E de possuir.
Estou cansado de dormir. E estou cansado de estar acordado.
Estou cansado de estar drogado e muito mais cansado de estar lúcido.
Estou cansado de sonhar.
Estou cansado de querer.
Estou cansado de desejar.
Estou cansado da ilusão. E mais cansado ainda da realidade.
Cansado de achar que tudo está bem. E descobrir que tudo é uma merda.
Cansado também de aceitar que tudo está perdido. E de perceber que tudo pode ficar bem.
Cansado do futuro. Do dia de amanha que nunca chega.
Cansado do passado. E cansado do hoje também.
Cansado das minhas casas. Cansado de não ter o meu lugar.
Cansado do noivo. Do amante. Do namorado. E do amigo.
Estou cansado de ser o Homem de Uma Vida.
Cansado de ser um Inseto.
Cansado de ser um Palhaço.
Cansado de ser um Boneco de Porcelana.
Cansado de ser um Louco.
Cansado de ser um Morto.
Cansado da minha infância, da minha juventude, da minha mocidade e da minha velhice aos 24 anos de idade.
Eu estou cansado das pessoas.
Estou cansado das paredes.
Estou cansado das ruas.
Estou cansado de pensar. De raciocinar. De racionalizar. E de fantasiar.
Estou cansado de mentiras. E também cansado das verdades.
Estou cansado do corpo. Estou cansado do toque. E cansado da rejeição.
Cansado dos instintos. Do selvagem. E do humano.
Cansado da chuva. E cansado do Sol.
Estou cansado da manha. E estou cansado da noite.
Estou cansado de julgar. E mais cansado ainda de ser julgado.
Estou cansado da dor, da tristeza e do desespero.
Estou cansado das lagrimas. E estou cansado do sorriso também.
Estou cansado dos dias ruins. E cansado dos dias bons.
Estou cansado dos momentos ruins dentro de um dia bom.
Estou cansado dos momentos bons dentro de um dia ruim.
Estou cansado de ver a beleza.
Tudo aqui está cheio.
A mente. A alma. O coração. E o espírito.
Tudo está cheio de tudo.
Cansado do prazer. E do mal estar.
Estou cansado de dormir numa tragédia e acordar no paraíso.
Estou cansado de acordar no paraíso e antes do fim do dia estar de cara para a visão do Inferno.
Estou cansado de deixar. E agora também estou cansado de ser deixado.
Estou cansado do caos. Estou cansado da ordem. E estou cansado do tempo.
Eu estou cansado de tudo. E de todos. E estou cansado de mim.
Eu estou cansado do existir e cansado de existir.
Eu estou cansado de não me sentir vivo. E eu estou cansado de estar vivo.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A proeminência do existir. (Parte I)

O meu nome é Swallo...

Estou sentado em um banco qualquer à beira mar da Cidade Compacta.
Estou uns 15 cm. fora do corpo, tenho uma garrafa de vinho em uma das mãos.
Estou há 36 horas sem dormir e não sinto vontade alguma de encontrar-me com
o sono. Estou usando o meu uniforme padrão dessa semana, pareço um tipo de
Edwards-mãos-de-tesoura usando uma jaqueta militar.

[Não, isso não me pertence e a cordialidade não mora aqui nesse mundo, aqui
não se reconhece nenhuma criação. Isso não encontra mais lugar cativo nesse
mundo fantástico e impenetrável].

Tem um estranho sentado ao meu lado, ele parou para pedir fogo, eu disse que
não fumava e ele puxou assunto, ofereci um gole do vinho e ele disse que não
bebia. Achei que era um gay querendo passar conversa, mas agora sei que não
é esse o caso, talvez até seja gay, mas não está aqui para passar conversa
(menos mal). Ele percebe as ataduras em uma das minhas mãos e me pergunta o
que aconteceu. Eu ergo a mão e depois de um tempo olhando para as ataduras
sujas, digo: _Uma idiotice... Tentei quebrar um carro usando as próprias
mãos, a idiotice não foi tentar quebrar o carro, mas sim pensar que a mão
esquerda tinha tanta força quanta a direita.
Ele ri e se cala, eu também dou risada e começo a falar sobre uma melodia
que está na minha cabeça; “International Dateline” é o nome da música, ele
diz que não conhece, faço minhas dissertações sobre o poder dessa música.
Falo que se toda pessoa assim que acordasse escutasse essa música o mundo
seria um lugar melhor para se viver, ele se interessa por essa parte, eu lhe
falo sobre a imensa vontade de sair correndo e queimar no ar quando escuto
músicas como essa.

[Estão julgando e já foram julgados. Não importa o quanto vocês não
acreditem em Deus. Isso não tem peso para ele, porque ele acredita em
vocês].

Ele diz que já sentiu isso com algumas músicas, e com alguns filmes também.
Ele observa que sob a minha perna eu guardo um caderno puído, e como se
adivinhasse pergunta: _Poesias? Posso dar uma olhada?
Eu estendo o caderno e ele o abre ao acaso em um texto chamado “Uma dor
chamada amanha”. Ele termina de ler e fica em silêncio, vira a página e
começa a ler uma letra de música; o nome é “Poney Song (sobre sonhos e
morte)”. Ele lê os últimos versos em voz alta:

Devolva-me ao caminho da paixão.
Devolva-me ao meu paraíso das ilusões.
Devolva-me... Por favor...
...O grande momento da minha vida.
E se nada disso for possível...
Devolva-me pelo menos a última saída.
Não são balas com asas de borboletas.
São borboletas dentro de um revólver.

O estranho levanta-se e entrega-me o caderno. Diz que são complexas e belas
as minhas poesias... Eu digo que não, que é apenas lixo de uma mente
perdida. Ele diz que pode ser que eu esteja certo, mas que ele também está
certo. Eu sorrio e esboço um agradecimento. Ele me olha nos olhos e diz:
_Você é o típico “rockstar” problemático, viciado e torturado, e garanto que
tem uma lamina de barbear no estomago e que adora isso, você deve engolir as
pessoas e faze-las nadar nas suas entranhas ou então deve vomitar todo o
sangue das feridas nelas, ninguém escapa não é? Seria um desperdício você
não dividir a sua “mente perdida” com o resto do mundo, seria um grande
desperdício você não estar na hora certa, no lugar certo com as pessoas
certas e ver o universo conspirar ao seu favor, mas se isso te acontecer
garoto, tenha a certeza de que você está ferrado, você queimará no ar e
provavelmente muitas outras pessoas vão queimar com você.

terça-feira, novembro 28, 2006

“Porque um segredo é um segredo e é um segredo”.

Porque um segredo é um segredo e é um segredo e é um segredo e é um
segredo...
Aqui não existem mais segredos, eles eram como um câncer, a corromper, a mal
tratar, a destruir, a desfazer, a matar todo o ser, o meu e o seu e o deles
e o de todo mundo, porque todo mundo ama todo mundo... Não! E não! Eu amo
todo mundo e amo todo mundo e amo todo mundo e amo todo mundo...
Você, ela, ele, a casa e o gato, o olho e o buraco, a cadela e a areia e o
espelho e o seio...
E ele é apenas um tolo na montanha que deveria ter sido mais esperto e
lutado pelo que queria, talvez tivesse ganhado o que sempre sonhou, mas
não... Não moveu um grão de areia no universo todo para ter o que era
maior... Então... Foda-me... Com força!
Porque um segredo é um segredo e é um segredo e é um segredo e é um segredo
e é a raiz de um segredo... Maldito segredo!
Olhe para o olho da minha mente, segure minhas mãos pálidas e ressequidas
pelas drugs... Porque eu tenho um paraíso perdido dentro de mim, berrando,
gritando, implorando para ser liberto, para ser amado como um dia já foi,
porque devemos ser sinceros com nos mesmos, pois é certo que todos já
tivemos isso, bem aqui, mas tudo se perde tudo se desfaz tudo se transforma
e adormece, como um sonho doce e infantil, que nos acompanha no final de um
dia cheio de brincadeiras coloridas e barulhentas.
E quer saber um segredo? Um segredo bem complexo e perigoso? Certo, certo,
vou lhe contar algo, mas não um segredo, porque eu conheço a verdadeira arte
de guardar um segredo... Porque um segredo é um segredo e é um segredo e é
um segredo e é um segredo e é a droga de um segredo que me faz deixar de ser
um homem e me faz deixar de ser uma mulher e me faz deixar de ser um cão e
me faz deixar de ser um fantasma e me faz deixar de ser um rato e me faz
deixar de ser um inseto...
Sim, sibilando pendurado em alguma parte desse teto imundo, com meus ossos
brancos cobertos de verniz sendo expostos pelo desejo insano de depositar
minha ex-carne dentro de você, com minhas asas quebradiças e toda essa
química em meu sangue azul anil que mais parece algum tipo de fluido para
motor de carro velho com banco de couro e luz interior da cor do inferno,
zunindo pela Cidade Compacta em busca de um pouco de existência, tocando os
pobres e meigos coraçõezinhos adolescentes que são atropelados pelo caminho
com uma musica doente fazendo nossas caixas cranianas vibrarem na mesma
freqüência indecente, sim, sim, eu o Inseto e ele o Garoto Poney e o Inseto
e o Garoto Poney e o Inseto e o Garoto Poney e o Inseto Mutante Tomador de
Drugs...
E a minha mente é a minha pior e maior e mais querida inimiga, sempre
fazendo lembrar, sempre fazendo querer, e nesse exato ponto está o meu fiel
escudeiro, meu amante e meu melhor amigo já morto e enterrado e com uma fina
poeira cobrindo sua casca que esconde os ossos que um dia foram guardados
por músculos e nervos e beleza ponderadora, mas que os vermes rastejantes e
amarelos devoraram a muito tempo, deixando para traz apenas um casulo vazio
com seus longos fios de cabelo que mesmo depois da morte ainda teimaram em
crescer nessa sua cabeça grande e tão cheia de idéias perversas e malucas
como as que eu tenho “agora e ainda” dentro de mim.
Você deveria estar aqui comigo para rir das coisas que nos fizemos juntos em
nome de nossos paraísos distorcidos e perdidos, deveria estar aqui para
lembrar como eu lembro agora da noite em que estávamos nos divertindo com
aquela menina/menino/menina e você estava lá com aquele entra e sai e entra
e sai e deixa a carne vermelha com a palma da mão e entra e sai e entra e
sai todo e eu apareci das sombras do quarto escuro cantando... _As pessoas
boni-taas, as pessoas boni-taas... E ela ficou realmente aterrorizada, com
um lindo e suculento medo transparecendo de seus olhos grandes e contornados
com uma pintura negra exagerada que só fazia acentuar a condição de
menina/menino/menina entregadora de prazer e delírios congênitos e ela achou
realmente que iríamos machucá-la, e quase virou pedra quando toquei sua face
com as minhas mãos frias, mas nos a machucamos mesmo não foi? A machucamos
de um jeito que todas elas gostam de serem machucadas e fomos como golfinhos
dopados do maravilhoso Elixir da Branca de Neve nadando pela Cidade Compacta
em busca da vigésima quinta hora de nossas vidas inocentes.
Oh, _Uau, foi isso mesmo... Foi sim.
Eu sei que você teria adorado conhecer a Hazel, aquela que já foi a Hazel
Escarlate que um dia caminhou em meus sonhos obliterados pela luz que a
cortina deixou passar suavemente naquela manha de terça-feira... Sim, sim,
você teria adorado ela e posso até ouvir e ver você dizendo-me: _Oh, cara,
ela é demais, olha essa pele toda branca e esse sorriso perigoso
transbordando desses lábios suculentos e macios e tão cheios de pecado...
Sim, era isso que você me diria, era mesmo.
E você era exatamente como eu, um profundo conhecedor da verdadeira arte de
guardar um segredo, porque um segredo é um segredo e é um caso de vida ou
morte alem da vida e da morte que todos provam e irão provar...
E eu digo: Oh, Jesus... Contemple essa minha face magra e ossuda e segure
minhas mãos e deixe-me acreditar mais uma vez que ainda que eu ande pelo
vale da sombra da morte eu não temerei mal algum porque tu estás comigo e
isto me basta.

quinta-feira, novembro 09, 2006

“Junke-ME”

Às vezes as drogas revelam-me. Às vezes elas apagam-me.
Às vezes um só, às vezes eu mesmo. E às vezes... Você.
Quem será aquele que terá as informações para mim?
Quem será? Oh, _Uau! Quem hein?
Um samba triste quebrado em mil pedaços.
Ele morreu ali, bem ali mesmo...
Sabe onde tem uma mancha azul na calçada?
Então, foi bem ali que ele virou vapor. Ele olhou para mim e disse...
_A maldita correspondência esta sempre atrasada.
_Como posso curar-me se meus remédios nunca chegam no dia certo?
Então eu dei a lata de spray para a garotinha.
Ela sabia como fazer, mandou tudo para a mente...
Num instante tirou toda a roupa e correu pela Avenida 69.
Toda elétrica com o sol reluzindo em sua pele branquinha.
O Papai-noel que trabalhava por ali ficou assustado e sem entender nada.
Então eu disse: _Coisas da vida irmão, coisas da vida.
E ele continuou a rir (HO-HO-HO) e a balançar seu tolo sino.
Lembrei-me da vaca Dulce, sim, uma bela vaca.
Litros e lírios de leite por dia.
Ganhava sempre a melhor Coca... Digo... Capim.
E seu leite era como naquele livro doente que virou filme...
Cheio de facas... _Uau, aquilo realmente era revelador.
E lá estava à garotinha correndo para mim novamente.
Ela estava cheia de cevada, sêmen e sangue.
Tinha um gosto delicioso e sem nenhum pelo.
Isso mesmo, era sim... Abri a porta e disse:
_Hei mãe! Essa é minha nova namorada, sim, sim.
_Nããão mãããe! Ela não é guitarrista de nenhuma banda norte-americana.
Ela é uma detetive naturalista, trabalha no Instituto K.A.O.S.D.C. sabe?
Aquele prédio cinza que fica no começo do Platô Esperanto.
Está cuidando de uma nova espécie de inseto... Mutatis Drug-nofilis
Afetadus.
Sim, sim, ela vai acabar comigo, me mantendo assim, dopado 25 horas por dia.
Mas tudo bem mãããe, é só por esse inverno mesmo.
Na próxima estação eu já serei lenda por aqui.
Um montinho de pó destruindo alguma mucosa alheia.
Sibilando de maneira reveladora em alguma mente que nunca me esquecera.
Sim, sim, será isso mesmo. _Uau, certo (A-HA), certo, certo.