segunda-feira, agosto 14, 2006

O fim dos dias que nos são roubados.

Você não entende não é mesmo?
Ninguém tem culpa... Ninguém!
Isso nem sempre é uma escolha.
E decerto eu não pertenço a esta realidade.
(Eu bato a cabeça contra a parede).
(Espero que isto me tire os sentidos).
(Sentidos? Isto deve ser uma piada).
Porque este é meu limite.
Não posso continuar a me arrastar assim.
Por estes dias tão doentios.
Esta jaula cheia de conforto está me matando.
E você sabe o quanto eu odeio isto.
Sabe o quanto me machuca ver estes animais assim.
(Atiro-me seguidamente contra a parede).
(Talvez a dor física ultrapasse a espiritual).
(Ou talvez eu só esteja conseguindo assustar você).
Porque este foi meu limite.
E aqui neste ponto eu rompo.
Olhe para mim, eu sou todo vísceras e coração.
(As lágrimas queimam para sair).
(Eu não controlo mais o choro).
(Eu não contenho mais...).
Você deveria ler as coisas que eu escrevo.
Elas dizem muito de mim.
Todo esse egoísmo me empurrando para dentro da caixa.
Eu não aceito mais... Eu... Não... Aceito... Mais!
(Minha cabeça dói muito).
(Tenho a nítida sensação de que vou morrer).
(Bem aqui, neste canto úmido).
Tentei desesperado dar uma solução a isto.
Impedir que este dia também fosse roubado.
Mas não... Já era tarde demais.
Você nunca pára antes.
Não antes de eu me esvair.
Não antes de eu sentir que vou apagar!
Não antes de me torturar com essas lágrimas.
(Eu berro muito... Muito).
(Porque a algo gritando dentro de mim).
(Sinto o homem revoltado se atirando contra as paredes da caixa).
Deixo você saber com todas as palavras...
Que eu me permito tudo... Que não seja a morte.
Mas com exceção dela... Permito-me tudo.
Eu não posso mais voltar.
Este é o lendário ponto sem retorno.
(Eu peço para você ir embora).
(Caminho entre os meus irmãos).
(Eles temem me olhar nos olhos).
Este recinto está tão silencioso.
Em nada lembra a atmosfera que deixei há quarenta minutos atrás.
O garoto pônei esta aqui.
Tão fora do ar quanto eu.
A luz já não é bem vinda nesta sala.
O homem arrombou a caixa.
Deve ter sido ele que estilhaçou todo esse vidro.
Eu beijo docemente o garoto.
E nessa escuridão toda encontro à mão dela.
Ela também está fora do ar.
Deve ser por isso que teve coragem de entrar aqui.
(Eu tento sussurrar algo).
(Eu digo que gosto dela).
(Gosto dela porque ela me permite ser eu mesmo).
Enfim, todos se vão. Deixaram-nos sozinhos, eu e o garoto pônei.
Pediram-nos para não fazermos nada de errado.
E não faremos.
Embora eu não saiba o que eles entendem por não errado.
E a bem da verdade isso pouco nos interessa.
Não interessa a mim...
E nem ao homem que saiu da caixa.

Saturnine

1 Comentário:

Anonymous Anônimo said...

LIVROS...LIVROS...LIVROS
TEXTOS...TEXTOS...TEXTOS

EU AINDA TENHO UMA MISSÃO...
EU SEI QUE VOU CONSEGUIR...

4:37 PM  

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